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Eu já passei por isso. Se você também acredita que “Não adianta fazer, já que vou perder mesmo”, então saiba que nós vivenciamos o Desamparo Aprendido.
Nos últimos dias, comecei a leitura do livro Desperte seu Gigante Interior do inspirador Tony Robbins. Encantada por uma avalanche de informações preciosas, eis que me deparo com o seguinte parágrafo:
De forma magnífica, Tony Robbins descreveu um dos padrões mentais que mais me acompanhou durante os 3 primeiros anos da minha graduação em Engenharia: o Desamparo Adquirido, também conhecido como Desamparo Aprendido.
E posso te confessar algo?
Não me sinto totalmente curada dessa mentalidade destruidora. Ainda existem resquícios em meu cérebro, o que me exige — ainda mais — consciência e muita determinação em superá-la.
E sei que não estou só. Muito provavelmente, você também já sofreu com o Desamparo Aprendido ou ainda sofre com isso.
E como tudo isso começa?
Assim como eu, provavelmente, você era uma daquelas pessoas que adorava alguma matéria no colégio. Tirava excelentes notas nestas disciplinas. Eu, por exemplo, amava física, química e matemática, então, decidi cursar a graduação em Engenharia. Um sonho.
Ai você passa no tão concorrido vestibular, vai estudar na Universidade que sempre quis e… Pá Pum! Notas como 2.8, em provas que valem 10, passam a ser uma constante.
Que a dificuldade aumentaria do Ensino Médio para a Universidade, você estava ciente, mas como assim, “eu tirei 2,8 nesta prova”?? — Essa pergunta passa a te acompanhar.
Você sempre tirou notas excelentes, o que estaria acontecendo?
Seu subconsciente começa a sussurrar: Será que sou burro(a)?
Você estuda, presta atenção na aula, faz todas as anotações, mas ainda assim tira 2.8. Como pode??
Na entrega das provas, quando não há uma risada humilhante do professor ao ver sua nota, você precisa ouvir discursos do tipo:
“Essa prova estava ridiculamente fácil e ainda assim muitos de vocês tiraram notas abaixo da média. Vocês precisam estudar mais…”
E assim você começa a pensar:
“Poxa, eu estudei tanto para essa prova e tirei 2.8. O professor — que te levam a crer que está sempre certo — disse que esta prova estava ridiculamente fácil e, mesmo diante dos meus esforços, eu tirei essa nota…”
Você começa a sentir que tudo que você faz é em vão.
Você começa a crer que não adianta estudar, afinal, mesmo estudando o que você estuda, mesmo a prova sendo “ridiculamente fácil”, ainda assim, você tira 2.8.
Você começa a se sentir impotente, sem valor.
Você começa a achar que sempre vai perder.
Você começa a viver o Desamparo Aprendido.
Em pesquisa no Google, encontrei um experimento realizado em 1965 pelo psicólogo Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, no qual ele consegue expor muito bem o que é o Desamparo Aprendido.
Neste experimento, ele colocou dois grupos de cachorros em jaulas diferentes.
O primeiro grupo foi para uma jaula onde o chão estava conectado a uma corrente elétrica, que disparava pequenos choques incômodos e de baixa intensidade, em intervalos regulares de tempo.
O segundo grupo foi para uma jaula semelhante a primeira, mas que continha um sistema onde os cães podiam desmontar o sistema que provocava os choques.
Após se adaptarem às circunstâncias das jaulas — o primeiro grupo precisou se acostumar com os incômodos enquanto o segundo grupo conseguia desligar os choques — os cachorros foram transferidos para jaulas com o mesmo sistema de choques, mas com barreiras baixas, onde qualquer cachorro poderia pular e ficar livre.
O primeiro grupo — que precisou se acostumar aos choques — simplesmente não saiu da jaula, enquanto o segundo grupo — que conseguia desligar os choques — pulou a barreira facilmente para se livrar do incômodo.
Os resultados deste experimento nos mostram que, como o primeiro grupo já havia se acostumado com o fato de que não tinham como se livrar dos choques, eles criaram a convicção de que já não havia mais solução para o problema que enfrentavam, mesmo quando eles estavam em um ambiente totalmente favorável a ficarem livres dos choques.
Ao vivenciar o Desamparo Aprendido, você começa a alimentar convicções de que “Não há nada a fazer”, de que “Nada do que eu faço dá certo” ou que “Não adianta tentar”.
E ao alimentar esses pensamentos tóxicos, você começa a entrar em um estado depressivo, onde você se vê de mãos atadas.
O que então precisa ser feito?
Você precisa entender que as circunstâncias não definem quem você é.
Elas não determinam o potencial imenso que temos.
Eu costumo brincar — falando sério — que “minhas notas não definem o que sei e o que sou”.
Foi alimentando essa convicção que, hoje, mesmo vindo o 2.8, eu já consigo ter mais tranquilidade para recuperar na prova seguinte.
No momento que vivi o ápice do Desamparo Aprendido, eu cheguei a desistir de algumas disciplinas na minha faculdade. O que por muitos foi tratado como “vagabundagem” ou preguiça por minha parte, hoje eu vejo que foi um estado de vítima que eu me encontrava e que, não encontrei em lugar nenhum na minha faculdade, alguém que pudesse me ouvir — E é por isso que eu estou escrevendo aqui.
Eu quero ser para os estudantes de Engenharia do Brasil a pessoa que eu procurei em 2013 e não achei em nenhum lugar, nem mesmo pela internet.
Pelo que vivo, seria hipocrisia da minha parte te dizer que é fácil mudar esse padrão mental. Mas te afirmo que é possível e necessário.
Eu sinto que minha autoestima atualmente passa por um processo de reestruturação, já que ela já se machucou muito por todo esse processo que passei dentro da minha graduação, mas o segredo está em ressignificar.
Recebeu uma nota ruim?
Primeiro, cante uma música que você ame. Nessas horas, eu ouço rock. Extravase todo tipo de energia negativa que possa vir até você.
Em seguida, faça as seguintes perguntas a você mesmo:
– “O que posso modificar a partir de agora para ter uma melhor nota da próxima vez?” Identifique feedbacks que possam te dar insumos sobre algumas melhorias que você pode implantar em seus estudos.
– “O que meu colega que tirou uma boa nota fez e que eu também posso fazer?” Modele as estratégias de estudos das pessoas que obtiveram o resultado que você desejava.
– “Qual foi o momento em que tirei uma nota boa?” Lembre-se dele . Deixe esse momento vivo em sua mente, intensifique as cores, sons e sensações dessa boa recordação. Sempre que vier um pensamento negativo sobre sua capacidade em tirar notas boas, recorra à essa recordação, que prova o quanto você é capaz. Reviva esse momento.
Eu fecho esse texto dizendo a única convicção que quero que a gente alimente a partir de agora:
Eu e você somos capazes!
E lembre-se sempre:
“Nossas notas não definem o que sabemos e o que somos”
Gratidão!
Obs.: Aos estudantes, amantes e profissionais da Psicologia que leem ao meu texto, peço, por gentileza, que me corrijam caso haja algum ruído na informação transmitida por mim. Gratidão!