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Segundo o “livro” que todos mal lemos em toda a nossa existência (estou me referindo ao dicionário, e pra ser mais específico o da língua portuguesa), a palavra remexer significa – tornar a mexer, definição simples, e quase óbvia, entretanto a dúvida que paira sobre a mente que vos escreve é a seguinte: Por que nos mexemos? E por que remexemos?
A indagação atrai outra questão que venho a analisar, trata-se da necessidade de não ficar parado, e então chego a compreender a importância do movimento, com base nesses pensamentos chego perto de responder o porquê nos mexemos, e consequentemente remexemos.
Todavia, ainda sim, existe um incômodo ao tratar de tal assunto: Pra onde nos mexemos? E temos certeza da direção que nos movimentamos? Sim tenho dúvidas, e acredito ser esta uma prática plural. Mas e aqueles que não têm dúvida? E aqueles que não se mexem? E aqueles que configuraram uma rotina pra si onde o movimento é desnecessário? Seria esse o chamado normal?
É incrível a percepção de tais relações nos desenhos animados, e existem pessoas que não gostam (você não é uma delas é?). Entendo o desenho como fruto de uma análise das tendências ocorridas na sociedade, o desenho não é apenas aquela animação que te faz sorrir, existe um “algo” mais, uma ideia, que às vezes, como diria alguns de meus conhecidos: “passa batido”.
Minha preocupação resume-se ao seguinte questionamento: O que buscamos quando nos remexemos? E pra abordar tal assunto vou-me ater a uma trilogia recente no cinema contemporâneo (não estou falando de Crepúsculo, Harry Potter ou o clássico Star Wars), refiro-me a Madagascar (sim é aquele desenho com um bando de animais). É interessante perceber que essa trilogia trata exatamente do questionamento abordado.
No filme Madagascar, existe por parte de alguns animais o interesse de sair do zoológico (espaço onde eles se sentem presos), e então partindo dos questionamentos acima propostos eles sentem necessidade de se mexer, ou seja, o desejo de mudar. Nesse momento a busca dos personagens está direcionada a qualquer outro lugar diferente de onde moram. Ao sair do espaço de descontentamento, acabam parando em um ambiente totalmente “desconfortável” (a Ilha de Madagascar), e então ocorre uma desconstrução da ideia de mexer, o esforço para realizar tal atividade é desconsiderado, dando a entender que o local onde estavam era melhor. A percepção e saudade do local de origem nos leva ao segundo momento dessa trilogia.
Em Madagascar II a busca volta-se para o local que ao primeiro momento era desconfortável, entretanto, essa relação de confortabilidade é muito subjetiva, e é exatamente isso que se apresenta em tal desenho. Essa nova busca os leva a um cenário diferente, a África. Apesar da sensação de estranhamento inicial, apresenta-se neste momento um resgate a história de cada personagem, pois ali eles se confrontam com suas raízes, e nasce um sentimento de pertencimento, de identidade, a necessidade de olhar o outro e se ver. Entretanto, tal sentimento não é duradouro, e ainda persiste a vontade de voltar ao “seu lugar”, configurando assim o último capítulo da saga.
Em Madagascar III, a busca continua, essa ampla ideia de que sabemos exatamente o que queremos os direciona, e nessa trajetória eles encontram o circo, e mais uma vez é perceptível o sentimento de “aqui é um bom lugar, mas, queremos nossa casa”. É possível detectar uma certa maturidade, uma vivência decorrente de toda trajetória percorrida até então.
Ao final do filme os animais são capturados, e levados ao local “tão desejado”, o Zoológico. A satisfação escorre com o passar dos segundos, e a trajetória percorrida para se chegar ao que acreditavam ser o melhor é mais uma vez desconstruída. A felicidade não estava ali naquele local, mas eles alimentavam a falsa percepção de que ali seriam felizes. Ocorre então à valorização daqueles que atravessaram juntos tais dificuldades, e uma ideia de que no circo serão felizes (e aí voltamos a uma tendência cíclica, possibilitando o início de mais uma trilogia).
O diálogo existente de um filme para o outro trata da necessidade da busca, e a música tema: “Eu me remexo muito” caiu como uma luva. A compreensão do que buscamos e aonde essa vontade nos direcionará deve ser analisada com cautela, entretanto, ser cauteloso não significa ser adepto ao ócio, ao sedentarismo, ou seja, “a insatisfação nos impulsiona”. Então desconfie de uma possível posição de repouso, se você não se mexe ou remexe, não sairá do lugar.
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