De “E se” em “E se”, nos perdemos

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Casal triste

Fernando era um lindo garotinho que estudava na mesma escola que Lola. Ele tinha um sorriso discreto, pois não gostava de mostrar os dentes, talvez por causa do aparelho que ele tinha vergonha de usar. Já Lola era diferente, com um sorriso constante ela cativava todos que a conheciam, a garota gostava de mostrar os dentes.

Fernando era um aluno estudioso, suas matérias preferidas eram Português e Inglês, ele gostava de línguas. E falando em línguas, Fernando se apaixonou por uma língua e uma garota sem igual. Digo língua porque essa garota gostava de tirar fotos mostrando a língua, talvez sua intenção fosse dizer para a sociedade que não estava nem aí para eles, mesmo ela sendo a típica garota perfeita: loira, olhos azuis e magra.

Fernando e sua garota estudavam juntos desde a primeira série do fundamental, que antigamente se chamava alfabetização. Essa garota era mesmo a Lola, e não revelei o nome dela antes porque ela tem esse poder de fazer a gente se perder, até mesmo ao escrever um texto.

Ele nutriu por anos uma paixão pela princesa típica da Disney. E chegou um momento que a atração dele por ela era tão forte, que ele começou a colecionar fotos dessa garota no computador. Ainda era tempo de Orkut, e o perfil de Lola era lotado, e mesmo não fazendo sentido algum, Fernando começou a imaginar que também não havia espaço no coração dessa garota para um novo amor.

A partir de agora Fernando começou a ter suas dúvidas, mesmo que ele nunca tenha demonstrado nada para ela, ele começou a achar que ela nunca gostou dele. Foram uma sequência de dúvidas de “E se ela não gostar de mim?”, “E se eu não for suficientemente bom para ela?”, “E se eu não a fizer feliz?”, “E se…?”.

Dessa forma passaram-se dois anos, mas antes de avançarmos para o futuro precisamos saber qual era a situação na época pelo lado de Lola.

Lola não era apaixonada por Fernando, mas ela o achava muito gente boa e fofinho. Nesse momento Lola não nutria o amor por ninguém, mas gostava do jeito de Fernando, o jeito tímido com que ele olhava para ela, e até daria uma chance a ele. Aqui precisamos fazer uma pausa, na sala deles todos sabiam que Fernando gostava de Lola, incluindo os professores. O único que não sabia dessa situação era Fernando, que não entendia porque sempre os professores sorteavam eles dois para as duplas dos trabalhos. Ele via isso como azar, e não aproveitava para se aproximar dela, preferia fazer o trabalho sozinho. Preferia não aceitar quando a garota o chamava para ir na casa dela fazerem o trabalho juntos.

Dois anos se passaram, e a situação não mudou muito, só que agora os professores não os escolhiam mais como companheiros de dupla, e Lola não dava mais tanta atenção para Fernando.

Depois desses anos finalmente Lola se apaixonou de verdade. Ela já havia ficado com alguns garotos, mas nunca tinha sentido aquelas borboletas no estômago como agora. Lola se apaixonou por um cara que viu algumas vezes na rua, um cara que não foi falar com ela, um cara que se arrependeu para sempre porque pensou demais. Lola ainda morre de amores por esse cara, mesmo sem saber o nome dele. Ele ainda pensa em “E se eu tivesse ido falar com ela?”.

Fernando, nosso protagonista, ficou com muita raiva desse cara: como assim, minha amada Lola se apaixonar por um cara que ela mal viu na rua?

E assim Fernando ficou amargurado para sempre, não aceitava que ela não desse bola para ele, e por isso transformou sua vida no maior pesadelo. Devido à amargura desse acontecido todas as suas próximas escolhas foram feitas sem nenhuma ligação emocional. Ele se casou com a mulher que não queria, teve o filho que não desejou, e conseguiu o emprego que nunca sonhou.

O paradeiro de Lola e o outro garoto é desconhecido, dizem por aí que eles se encontraram anos depois, e dessa vez o garoto não quis se arrepender por nada. Dizem por aí que ele aproveitou a chance, e que arrependimento é coisa de quem tem oportunidade e não sabe aproveitar.

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