Reflexões sobre deixar meus 30 anos para trás

Reflexões sobre deixar meus 30 anos para trás

Tempo de leitura: 2 minutos

Então, vamos comemorar?

Mas, antes, vamos parar e refletir.

Percebi que aquela idade que me vestiu durante um ano tornou-se gasta.

Seria o tecido?

Não. Tem horas que precisamos trocar.

De roupa?

Não, de idade.

O “De repente trinta” passou voando.

Deu tempo de ouvir Michael Jackson, assistir Tom & Jerry mais uma vez, me casar e sair de casa.

Deu tempo de sentir um cadinho de nostalgia.

Observar quantos livros eu tenho, folhear minhas histórias em quadrinhos, lembrar dos amigos.

Perceber a genética dos meus pais agindo em mim.


Deu tempo de ouvir minha aluna dizer: Você é meu pai Preto.

Alguns dizem que escrever é um ato solitário.

No entanto, cada letra que surge em meus pensamentos vem carregada de vozes, de um outrem.

Não seria correto dizer que escrevo só. Uma calúnia.

Eu apenas reparto um pedaço de tudo que encontrei.

Hoje eu tenho autoridade para dizer: “No meu tempo era assim”. Mas, não sei se quero isso.

Um grande filósofo que conheci dizia: “Meu tempo é Agora”.

Esse tal tempo traz uma infinidade de sabores, aromas, sensações.

Como aquela vez em que encontrei uma princesa bem perto do vilarejo onde eu morava.

Hoje ela é rainha. E ouço pelo ecoar dos cantos que eu sou o rei.

Entre os tesouros que guardo, existe um extremamente precioso, e que a cada dia aprendo a utilizar para alimentar algumas pessoas que desejam saborear algo além do que conhecem.

Esse tesouro chama-se “Escrita”, e como vinho, parece melhorar com o tempo.

Sim, esse tempo, que é acusado de roubar nossa juventude como um larápio, cleptomaníaco. Ele nos traz a experiência. Como na alquimia, trata-se de uma troca equivalente.

O que alguém com mais de trinta anos, porém com menos de quarenta, pode ensinar?

Eu não desejo deixar de aprender. Em algumas lendas asiáticas o pupilo supera o Mestre.

Não quero ser melhor que o Mestre, desejo sentar com ele, e enquanto tomamos o “chá da tarde”, quero que ele conte sobre aquelas vivências que eu nunca soube.

Enquanto conversamos, a velhice olha distante, observa atentamente o quanto cheguei mais perto dela.

Em contrapartida, alimento a juventude com vídeo games, danoninho e camisas de super heróis (Obs: prefiro o Batman).

Não posso apenas deixar os 30, essa idade adentrou meu ser, e continuará existindo, enquanto deixa um espaço para as próximas primaveras.

Inicio então, essa trajetória. Onde esse número 1 chega de mansinho, quase em silêncio, se aproxima da idade anterior e diz: Estamos juntos.

E perturba-se dentro de mim um ritmo, mas se queremos dançar, devemos mudar a música.

O som é diferente. Não é um ruído.

Talvez uma melodia, leve, entre acordes e notas que sussurram “Eu tenho 31 anos”.

Acho que devo me acostumar.

Parece que essa música tocará durante algum tempo.

Preciso parar essa conversa. É hora de cortar o bolo.

Gostaria de lhe  contar um segredo antes de partir: “Se sobrar um pedaço, eu guardo pra você”.

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