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Em uma ilha remota e muito distante existia um vulcão silenciado. Durante séculos o vulcão não soltou nenhuma fumaça, até que um dia cuspiu uma bola enorme em meio as chamas.
Parecia uma rocha maciça, impenetrável, que no entanto, se rachou ao meio, e de dentro saiu uma criatura. Na ilha existiam diferentes animais, no entanto, este era peculiar. Um monstro que possuía duas cabeças. Apenas um corpo e duas formas de pensar e talentos diferenciados.
A cabeça da esquerda soltava veneno, ácido e mortal, porém, inflamável. A cabeça da direita soltava chamas, dominava o fogo. As duas cabeças nunca se olhavam, e evitavam ao máximo trocar palavras, pois o encontro de suas argumentações poderia ser letal. Tinham uma breve consciência de que se por acaso discutissem, acabariam com sua existência.
Um dia o monstro caiu em uma armadilha, a posição que as cabeças ficaram era incômoda. Uma de frente pra outra. Duas cabeças relutantes, ficaram dias sem se falar. Até que a cabeça do lado esquerdo, a que soltava o veneno disse: eu falo e você escuta, e depois você fala e eu escuto, não há possibilidade de falarmos juntos, pois você sabe o que acontecerá. A cabeça do lado direto acenou, compreendendo o raciocínio.
Então, a cabeça que tinha o veneno começou. Falou durante dias, enquanto isso a outra cabeça estava morrendo de vontade de soltar uma pequena brasa, permaneceu inquieta, mas respeitou o acordo. Depois foi a vez da cabeça que soltava fogo. Estava com tanta raiva que esfumaçou todo o ambiente. A outra cabeça estava com a língua encharcada de veneno, mas segurou a toxina perigosa dentro da boca.
E assim seguiram durante anos, uma falava e a outra ouvia. Um dia, as cabeças já sem esperança, pensando na possibilidade de um “oi” coletivo que poderia propiciar o fim de tudo, apareceu um animal menor, que sentiu pena da situação, então, aquela compaixão fez com que o animalzinho soltasse o monstro de duas cabeças sem fazer nenhuma pergunta.
Assim que estavam livres da armadilha o monstro de duas cabeças resolveu “agradecer”. A cabeça da esquerda soltou uma quantidade absurda de veneno em cima do animal indefeso e depois de se distanciarem um pouco, a cabeça da direita cuspiu um nível muito alto de chamas.
O pequeno animal que já sofria com o envenenamento, queimou, e morreu.
O monstro de duas cabeças continuou sua vida, caminhando por regiões longínquas e inóspitas. De vez em quando um ou outro comentavam que viram essa criatura por aí.
Alguns afirmam que foram atingidos pelo vocabulário tóxico da cabeça esquerda e outros insistem que foram chamuscados pela verbosidade flamejante da cabeça do lado direito. E você? Será que já viu esse monstro por aí?