Entrevista exclusiva com o dublador e locutor Ricardo Juarez

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Ricardo Juarez e seus personagens

Hoje será um pouco diferente e especial, por que após muito trabalho consegui uma entrevista exclusiva com o incrível dublador e locutor Ricardo Juarez. Vocês podem se lembrar mais dele como a voz do personagem animado Johnny Bravo, ou outros como Tygra dos Thunder Cats ou Taz, Capitão Átomo e Edu em Du Dudu e Edu. Agradecemos imensamente a simpatia dele em nos responder atenciosamente todas as perguntas.

Bom, então vamos à entrevista, aonde tive a oportunidade de fazer perguntas que mostrem um pouco mais da dublagem, quem são as vozes que vocês escutam no dia a dia, mas raramente conhecem quem está por trás delas.

Ricardo, como você começou nesse ramo de locução e dublagem, foi por sempre querer este emprego ou por oportunidade de trabalho?

Eu estava com 18 anos. Havia acabado de voltar dos EUA. Morei lá durante um ano fazendo intercâmbio cultural. Não sabia bem o que iria fazer. Cheguei a cogitar a possibilidade de trabalhar como Diplomata. Mas um belo dia tudo isso mudou. Descobri a locução quando fiz uma visita à extinta Rádio Cidade 102,9. Foi paixão a primeira vista. Algumas pessoas falavam que minha voz era muito impostada. Que eu precisava melhorar minha interpretação por isso decidi fazer teatro. Mas nunca foi com a intenção de fazer dublagem. Essa outra arte surgiu por acaso na minha vida profissional.

Você acha que os dubladores têm o reconhecimento que merecem? Ou deveriam aparecer mais por ser de vocês as vozes que aparecem no dia a dia da televisão brasileira?

Não. Não acho que temos espaço na mídia para explicar e mostrar como as coisas são feitas. Muitas críticas feitas a dublagem não tem informações detalhadas. Por exemplo, somos proibidos de falar palavrões pelas emissoras. Isso até mudou um pouco. Mas na grande maioria das vezes não podemos falar. O filme perde a verdade, perde o impacto. Como é que você vai chamar de “bastardo” o sujeito que acabou de matar sua família? Soa falso. Existem outras palavras que também não podemos falar dependo do estúdio americano responsável por aquele filme (desenho) no Brasil. “Meu Deus” pode ofender algumas religiões não podemos falar. “Saco”, pegue esse saco plástico e jogue fora também não é permitido por que lembra órgão genital. E ainda temos uma grande e recente dor de cabeça chamada The Kitchen. Um estúdio que funciona nos EUA que recruta brasileiros “amadores” para dublar. Não existe nenhuma regra. A coisa é assim. “O que você fazia no Brasil antes de se mudar pra Miami?… Eu era garçom… Mas você sabe ler né?… Sei sim moço. Tenho primário.” Então vários filmes, desenhos e até mesmo jogos de vídeo game estão sendo dublados lá. Isso são apenas alguns detalhes que o grande público não sabe. Muitas vezes somos criticados sem ter direito a resposta.

Agora falando um pouco mais sobre o seu grande trabalho em minha opinião: Como foi fazer o Johnny Bravo, você se candidatou a vaga ou foi por acaso?

90% dos personagens que dublei foram acidentais. É muito raro alguém me chamar pra um teste. Existe uma coisa muito chata na dublagem. Se você tem outra atividade no meu caso é a locução, as pessoas quase que automaticamente já descartam você por que acham que vai estar ocupado. Pra isso existe telefone né? É só ligar e perguntar o dia que vou estar livre. A coisa funciona assim. Um diretor de dublagem que conhece o seu trabalho e potencial chama você para um teste de voz. Normalmente são 3 pessoas concorrendo para o papel. No caso do Johnny, um dublador ficou doente e faltou. Foi assim que aconteceu comigo. Entrei para quebrar um galho. O Johnny Bravo é como se fosse meu filho. Largo o que estiver fazendo pra dublar ele. Mas é bom deixar claro que não existe mais essa coisa de voz oficial. Atualmente a dublagem está muito bagunçada. Dubla quem o Diretor de Dublagem quiser. Ele (a) pode tranquilamente tirar o personagem de mim. Isso é fácil. Até por que hoje em dia estou mais voltado para a locução do que dublagem. Então uma desculpa para me substituir não é difícil de achar. Existem muitos diretores de dublagem por aí que não sabem o que é a palavra ética.

Como você reage ao reconhecimento das pessoas, por que geralmente elas não sabem quem está por trás das vozes dos seus personagens favoritos. Enfim como é quando alguém chega e pergunta: Nossa você é o Johnny Bravo, Nossa você é o Melman ou Nossa você é o Tygra?

É sempre bom ser reconhecido. É gratificante.

Explique um pouco de como é feito o trabalho de dublagem, o elenco trabalha junto ou todos fazem seus trabalhos separados?


Hoje em dia tudo é gravado separado por uma questão de mixagem. O filme (desenho) chega ao estúdio e é traduzido. Em seguida o dono da empresa decide qual Diretor vai estar à frente daquele projeto. A função do Diretor é escalar o elenco de vozes. Ainda existem poucos que respeitam o colega de profissão e são éticos. Sendo assim procuram saber quem dublou aquele ator. Outros simplesmente colocam quem quiser. Se quiser o Diretor tem poder para colocar sempre, sempre e pela eternidade o mesmo grupo de pessoas para fazer os personagens. O filme é dublado, mixado, e revisado para depois ser enviado para o cliente.

Como que são escolhidos os dubladores para cada personagem?

Normalmente são feitos testes de voz. Mais uma vez o Diretor pode chamar eternamente o mesmo grupo de dubladores para fazer teste. Não existe nenhuma regra contra isso. O que é uma pena.

Qual é o ator mais difícil de dublar?

Um dos mais difíceis que já dublei foi o Will Farrell. Mas não posso dizer que sou o único. Lembra que eu disse que a dublagem virou uma bagunça? Pois é, fora eu outros 7 dubladores já dublaram ele. A ética é coisa do passado.

Cite alguns de seus trabalhos favoritos?

Edu – Du Dudu e Edu; Taz; Tank Evans (Tá Dando Onda); Capitão Átomo (Liga da Justiça); Barney (Simpsons); Digimon (Narração); Fuzzy Confusão (Meninas Super Poderosas).

Você acha certo afirmar que hoje o Brasil tem uma das melhores dublagens do mundo?

Sim, mas a qualidade caiu muito.

Em que trabalho você está mais focado hoje em dia, na dublagem, locução ou no que aparecer?

Com certeza a locução. Quando comecei a crescer na dublagem coloquei uma meta na minha cabeça. Dublar um protagonista pra cinema numa animação. Já fiz alguns coadjuvantes, mas quero fazer protagonistas. Já se foram quase 20 anos esperando por um “teste”. Curioso não? Quase 20 anos dublando e nunca fiz um simples teste para um protagonista de um longa para cinema. O engraçado é que sou sempre elogiado. Tapinhas nas costas, e-mails, telefonemas, mas isso é só pra esses personagens que faço pra TV. Deve ter alguma coisa que não tenho para fazer cinema. Não pergunta a mim o motivo. Também não sei. Não vivo mais de dublagem. É claro que se você for entrevistar alguém do meio vai ter uma lista imensa de motivos para eu não ter sido chamado um deles é que sou muito ocupado. Mas isso não impede né? A não ser que o (a) Diretor (a) de dublagem seja um vidente. Se ele (a) já conhece o futuro, sabe que não vou passar no teste por isso não me chama. Só pode ser isso. Então a coisa está nesse pé. Infelizmente. Gosto muito de dublar. Mas esse tempo todo e eu nunca tive uma oportunidade? Isso é no mínimo estranho.

Da para viver somente da dublagem?

Fora o talento você tem que ter a sorte de cair nas graças do Diretor de Dublagem. Aí sim consegue. Mas acho muito difícil viver apenas de dublagem.

O que você acha dessa dublagem que está sendo feita em Miami e gera muitas críticas das pessoas desse ramo?

O tempo todo. Ninguém aprende a dublar da noite pro dia. São anos e anos estudando. Treinando. Aí, chega uma pessoa que nunca viu um microfone na vida e começa a gravar. O resultado é lixo.

Agora fale um pouco mais de você, quais são seus hobbies?

Fotografia. Um dia pretendo levar isso mais a sério.

Certo, muito obrigado Ricardo. Agora deixe um recado para os leitores do O Minuto do Saber:

Valeu galera. Obrigado pelo espaço.

Abraços!

3 Comentários


  1. Legal conhecer os dubladores brasileiros, quer dizer, os bons dubladores brasileiros, porque tem umas dublagens que não vale a pena assistir.

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  2. Ricardo Juarez é incrível mesmo.
    Mas ele estava muito put* quando fez essa entrevista, cara. hahahahaha. Mas com razão, claro. Infelizmente parece que o meio da dublagem é um meio muito sujo assim como muitos outros meios profissionais.

    Responder

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