Por que não conversamos?

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Chuva no parabrisa

Sai apressada do ônibus, acabara de chegar de viagem, precisava pegar o último coletivo no terminal, já era quase meia noite:

“Moço onde compro o ticket do ônibus?”

“Sobe as escadas, entra na fila, depois passa a roleta, quando sair da roleta vai ver várias escadas, você desce na que esperará o ônibus.”

“Obrigada.”

Sai correndo, tentando ignorar o frio, achei a fila, comprei o ticket, vi uma escada e logo desci. Quando estava no meio dela me deparei com várias ao lado. Quando olhei para baixo vi um moço alto, de coturno, calça jeans, blusa de frio (e que dia frio), logo pensei: “Podia tanto ser ali meu ônibus” e continuei a procurar a escada correta. Subi a escada novamente e achei as plaquinhas perto das roletas indicando os pontos. Olha que sorte, teria de esperar ao lado do moço de coturno. Ao me aproximar notei que sua blusa de frio era da universidade que eu estudava e estava escrito engenharia. Cinco minutos se passaram e o ônibus chegou, caminhamos lado a lado rumo ao ônibus, esperei que ele entrasse primeiro para ver onde ficaria e logo após, eu escolheria meu lugar. Ele entrou e já ficou de pé próximo a porta, assim eu logo pedi pra sentar do lado da moça próxima a porta e consegui um ótimo ângulo de visão.

Ele não me deu muita bola, mas notei um olhar de vez em quando, seria coisa da minha cabeça?

Quando o ônibus ia se aproximando da universidade ele fez uma curva, eu logo pensei “Peguei o ônibus errado =o”, ele viu minha cara e deu aquele sorrisinho de lado do tipo “calma moça, você não pegou errado”, aquele sorriso de canto tinha razão, havia mais de um ponto próximo a universidade. Ao parar do coletivo ele desceu depressa e eu logo em seguida, andando rápido, ele nem se quer olhou pra trás, desceu a rua e eu subi. Entre 12 engenharias e mais de 30 mil alunos, qual a chance de reencontrá-lo?

E assim é a vida, talvez se não fosse o costume de sempre seguir o padrão, de simplesmente não chegar na pessoa e matar a vontade de conversar com ela, mandar um bilhetinho no bar feito no guardanapo, ou simplesmente virar para alguém e dizer “Oi, obrigado por embelezar meu dia”, seja no restaurante, na rua, no ponto de ônibus, essa coragem poderia render belas histórias. Se não saírem como planejamos, ótimo, pois a vida é uma metamorfose ambulante e nós também devemos ser, isso pode nos render pelo menos algumas piadas no futuro.

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