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Alguém por acaso já chamou você de dançarino? Acredito que sim, né? E qual foi sua reação? Você deu um sorriso? Ficou entusiasmado, e até sentiu vontade de fazer algum movimento na frente da pessoa (você fez mesmo isso?). Bem, parece que a expressão “dançarino” é muito complicada de se entender, pois tem um significado inapropriado (na minha opinião).
Ser dançarino causa o seguinte entendimento: “Eu sei dançar tudo”. E o pior é que quando a pessoa diz isso, ela pensa isso. Mas, talvez, nas danças urbanas (essas que nós praticamos), seja um pouco diferente. Geralmente um ou outro chega por aí e diz: Você é Popper? Ou em uma linguagem mais popular: E aí mano, cê dança Breaking? Parece que mesmo em nosso estilo de dança acontece a mesma coisa. Sabe qual o problema? Colocar rótulos, dizer o que é. Na maioria das vezes isso funciona de uma maneira errada, por exemplo, se a pessoa dança house, e também curte krump, do que ela deve ser chamada? Qual rótulo seria melhor pra ela?
Pensando nisso eu lhes trago uma solução, simples e objetiva, quando alguém perguntar o que exatamente você é, você diz: Sou estudante e praticante de danças urbanas, porque se você realmente se considera um “dançarino”, dizer as pessoas que você estuda é a melhor explicação. Por quê? Porque para que você consiga construir uma identidade, você precisará estudar sempre, e não só estudar, estudar e compartilhar, é “tipo” o que estamos fazendo aqui.
Quando você aprende algo, para que esse algo comece a fazer parte de você, você tem que demonstrar, falar sobre, executar em seu corpo. Então, posso compreender que a dança necessita de trocas. E que trocas são essas? Trocar ideias, experiências, trocar vitórias e derrotas. Se você for um simples “dançarino” você não vai querer trocar, sabe por quê? Porque você é melhor do que os outros. Mas, se você for um estudante você vai compartilhar e curtir também, você vai observar, e de vez em quando sem querer querendo poderá até “roubar” um movimento ou outro, mas a melhor parte disso é adaptar esse movimento, e torná-lo apenas seu, único, de mais ninguém.
Por isso os mais antigos são chamados de referências, porque você vê neles um passado, uma história, você os escuta, cada batalha, cada competição, cada racha e cada roda. Ah… Sim a roda. Você saberia-me dizer qual o sentido da roda? Um ou outro diria: A roda serve pra eu te esculachar, ah meu caro amigo, se você pensa apenas nisso, tenho a obrigação de lhe dizer: Parabéns, você é um dançarino, mas, os dançarinos, eles vivem apenas um momento, os estudantes vivem pra sempre.
Os estudantes são os que dão aulas em locais tão diferentes, um dia eles estão em uma academia luxuosa, e no outro em um projeto social com as telhas furadas que só pode ter aulas quando não chove. Os estudantes são os que pensam sobre dança, e escrevem sobre dança, para que outros estudantes possam ler, gerando assim uma história.
Pensar sobre dança é compreender que a roda é mais do que apenas apontar o seu dedo na direção de outro rapaz, a roda significa a circularização do saber, é um dos lugares que mais se aprende e mais se ensina, eu poderia dizer que é quase mágico, tem toda uma estrutura, primeiro você entra, depois se movimenta, e então finaliza. O engraçado é que às vezes você nem quer entrar na roda, mas a música, “essa saliente”, ela te segura e te puxa de tal forma que quando você vê; você já está lá dentro.
E quando você dança, sinceramente, é difícil explicar, lembro de uma vez em que terminei uma apresentação e um rapaz chegou e disse: Que estrutura corporal complexa. O que ele queria dizer? Você diz que algo é complexo quando o que você vê foge de suas explicações, e a dança é assim, apesar de existir desde o principio dos tempos, ela continua com seu caráter quase que religioso, e essa tal religião é que nos faz estar aqui, conversando, discutindo, e até desafiando um ao outro, porque isso tudo significa estudar.
Estudar significa aprender certo vocabulário e usá-lo infinitamente, da maneira que você achar melhor é claro. Enfim, se alguém se atrever a chamá-lo de dançarino, por favor, repreenda estas pessoas, diga que você estuda, e que pratica, e que até ensina, mas que você não é simplesmente um dançarino.