Os desenhos animados e o mito da democracia racial

Tempo de leitura: 3 minutos

Desenho Como Irmãos

Existem certos tipos de assuntos que permeiam diferentes esferas sociais, frequentam tanto a universidade quanto o bar do seu João. Isso porque todas as pessoas se sentem aptas a discutir (como se isso fosse simplesmente dar sua opinião) sobre alguns assuntos.

O assunto em questão é a democracia racial, já que o Brasil é um país igual para todos né? (…) Todos temos as mesmas condições, e todos podemos atuar em qualquer tipo de espaço, palavras com uma certa pitada de filosofia e amparada pela utopia. Para clarear sua mente e abrir os seus olhos (se ainda estiverem fechados) vou apresentar essa tal democracia com base em um dos meus objetos de estudo preferidos: Os desenhos animados.

Gostaria de apresentar argumentos sobre a presença (que parece mais ausência) do negro em nossos desenhos animados preferidos, ou aqueles que nossas crianças (o futuro do Brasil) assistem cotidianamente. Quando se pergunta: Você conhece algum herói negro? Geralmente eu escuto duas respostas:

– Sim, tem o Lanterna Verde (John Stuart) ou – Sim, tem o Super Shock (Virgil Hawkins). Se a pergunta for: Você conhece alguma heroína negra? A resposta demora um pouco, e sai meio engasgada: Sim, tem aquela do X-Men (Tempestade – Ororo Munroe). Mas existe ainda essa lembrança devido ao papel que eles ocupam, são personagens que fazem parte da trama principal, ou protagonistas, e não estou dizendo que não existem outros, pois conheço vários heróis negros do universo dos HQs, entretanto esses são os mais famosos, ou os que as pessoas já viram em algum lugar.

Mas a crítica principal está relacionada aos desenhos que as crianças assistem todos os dias, será que tem “cota” para o negro entrar no desenho animado? Gostaria que você tentasse lembrar os desenhos que você mais gosta, ou que assistia quando era pequeno, e nessa “brincadeira” tente lembrar se tinha algum negro por ali, e se tinha, qual era o papel do negro no desenho?

Talvez seja difícil lembrar? E eu entendo (…) Mas não se preocupe, você não está sozinho, a Disney também andou meio esquecida durante décadas, lançou a primeira princesa negra em 2009 (A Princesa e o Sapo).

E para os fãs das clássicas histórias da Turma da Mônica existia um personagem que de vez em quando dava um pulinho na história, meio assim sem compromisso, e dificilmente apresentava momentos de protagonismo (O personagem Jeremias).

Mas apesar desse mascaramento histórico existe uma luz no fim do túnel, alguns desenhos colocam o negro como parte importante da história, a Turma do Bairro (Codename: Kids Next Door), apresenta cinco personagens principais, e dentre eles está uma negra (Abigail Oliveira Lincoln – Número 5), bem estilizada e parte atuante da trama.

utro desenho recente na televisão é o “Como Irmãos” (Canal Disney XD) que apresenta dois protagonistas, e um deles é negro (Pahe) e aparentemente os dois tem a mesma amplitude no desenho animado.

Não estou tentando apresentar um tipo de discurso racista, ou a luta por direitos civis dentro dos desenhos, estou-me atendo apenas aos fatos, ligue a TV e assista. O que me incomoda é ter que procurar um negro dentro do desenho animado, “nossa realidade é tão diferente”, e o desenho é sim objeto de estudo das relações sociais.

Nossa sociedade é multicultural e prega a democracia racial numa escala universal, entretanto, no desenho o negro (90% das vezes) é apresentado de uma maneira subalterna, aquele que não é muito importante, se colocando sempre no papel de figurante; será que não tem alguma coisa errada? O desenho reflete a mesma relação que ocorre em nossa sociedade, o negro tem as mesmas condições, já que a sociedade prega a igualdade (você acredita mesmo nisso?).

A próxima vez que você assistir a um desenho animado dá uma olhadinha, a ideia principal desse instrumento de formação infantil é mostrar para as crianças qual o verdadeiro lugar que o negro deve ocupar, ou simplesmente nem mostrar o negro.

“E é exatamente por isso que eu vejo a presença tão forte da democracia racial nos desenhos animados”. Espero que você também perceba.

8 Comentários


  1. Já parou para pensar que desenhos produzidos em países onde os negros são minoria acabam expressando isso em seus personagens?

    O problema está em desenhos brasileiros onde o contrário não ocorre, mesmo sendo a realidade.

    Se bem que daí, temos que analisar os perfil dos criadores/produtores e muitas vezes lembrar que os desenhos acabam sendo inspirados neles mesmos, amigos/familiares… e então não refletem de maneira alguma um “apartheide” subliminar, apenas expressa a realidade sem se ligar a cores/etnias.

    Afinal de contas, se são todos iguais, por que se todas as etnias são iguais, não tem importância que algumas etnias apareçam mais que outras.

    Coitados dos Orientais, eles sim são as maiores vitimas deste suposto racismo que afirma existir.

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    1. Nos EUA os negros não são minoria ! Além disso,o racismo lá é muito mais descarado que no Brasil! Um desenhista brnco que só consegue conviver com brancos reLMENTE tem motivos para apenas desenhar personagens brancos. Mas m países miscigenados é praticamente impossível que não hajadiversidade racial nas relações sociais.

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  2. Que papinho de preto hein……

    São brancos pq os desenhistas na maioria sao brancos …..

    Quem desenha mangá é o que? todos os mangás são retratando orientais.

    Esse papo de exclusão é fácil, vai ralar o cu na pedra ao invés de reclamar ….

    Só sabem se fazer de vítimas …. bem típico

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  3. Não só desenhos, a televisão em geral, coloca o negro em segundo plano, no Brasil o próprio negro se coloca em segundo plano.
    Eu sou contra a cota para negros, pois acho que a universidade pública deveria ser só para quem estudou em escola pública. O que acontece no Brasil é que a sociedade criou um esteriótipo do negro como, favelado , ladrão, pouco inteligente, e os negros aceitam como se fosse uma verdade absoluta.

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  4. o assunto surge diversas vezes ambientando no brasil, mas esquecendo que muito pouco é produzido aqui, os desenhos são de outros paises.
    detesto essa vitimização, não tem pretos nos meus desenhos preferidos pois eles são japoneses, a minha raça não está representada ali, e nem por isso me considero descriminado por ela, é contexto.
    a verdade é que os desenhos são feitos por empresas, e elas não tem sentimentos, quando um grupo ou classe for um forte consumidor em potencial, eles explorararão imediatamente o publico, assim como vemos hoje vários comerciais e programas para as mulheres e para os homossexuais.

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  5. No Brasil, a inclusão dos negros nos setores mais badalados, mais abastados de nossa sociedade é tão pequena que faz com o que o próprio negro assimile essa ideia desfavorável desde criança. Em termos de mídia comercial, os fatos estão aí para nós vermos. Que um exemplo? Sou um grande consumidor de creme dental, minha mãe usava absorvente íntimo, meu pai, cuecas Zorba. No entanto, até hj, não se vê (ou se vê muito pouco, considerando a proporção da população negra no Brasil) a representatividade negra nesses tipos de comerciais. Comercial de protetor solar entáo, nem pensar ter uma figura do negro. Enfim, é uma exclusão discreta e permanente. Não é incomum relatos de negros bem sucedidos que têm vergonha de se casar com uma negra, com receio de seus filhos passarem pelas mesmas dificuldades. Desta forma, é quase impossível vermos uma Elite Negra brasileira. Quer um exemplo? Diga-me quantos negros brasileiros que vc conhece que falam assim: “Ah, meu bisavô foi um grande empresário do ramo de alimentos e minha bisavó foi uma renomada Senadora.” Raro, não? Nascer negro pobre no Brasil é um grande desafio. Talvez daqui a uns 200, 300 anos o quadro melhore.

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    1. A sua resposta foi uma das melhores. Você realmente está bem informado. Fico feliz por isso porque você é menos um que será facilmente manipulado !

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  6. Realmente, a diferença é muito grande e injusta. Além do negro, o indígena tmbém, mesmo no Brasil. Se os desenho animados fossem apenas advindos da Europa seria mais fácil de entender. Mas no Brasil e nos EUA a diversidade racia´l é grande demais para manter esse padrão. Fato que perceber essa diferença não é o único caminho para mudança. Acredito também que o negro tenha que agir e se representar. Eu sou desenhista e ilustradora; faço ilustrações com vários tipos de crianças, em especial negros, já que são minoria, exceto em história sobre favela, tráfico de drogas e prisão. Eu pretendo criar quadrinhos ou incluir o personagem negro sem criar esteriótipos. O negro e o indígena podem desempenhar qualqur função, como de médico ou engenheiro.
    No entanto, tenho que admitir que o desenho animado ou ilustração pode não ser aceito pelo estúdio ou pela editora. Ou seja, nessas horas o racismo pode prevalecer, infelizmente, porque o desenho pode não ser aceito já que possui negros “demais”. Um abraço e parabéns pela publicação.

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